Tempos atrás, assisti a uma entrevista de um blogueiro que criou uma personagem fake, com o objetivo de satirizar os evangélicos. Segundo ele, mais de trinta mil pessoas visitam diariamente seu blog, e mesmo com toda a zoação (personagem caricato, abuso de clichês, palavras chulas e situações pouco prováveis), muitos acreditam que tudo aquilo é real.
Como esta personagem, há milhares de fakes circulando na internet, alguns tão sutis que é quase impossível dar-se conta de que não sejam pessoas reais. Porém, pior do que os fakes cibernéticos, são os de carne e osso que circulam livremente em nossas vidas, fazendo-se passar por aquilo que não são. Como reconhecê-los?
Seria inadmissível acreditar que existam até pastores fakes? Refiro-me àqueles que sobem ao púlpito descaradamente, fingindo ser o que não são? Infelizmente, não dá para confiar em tudo o que vemos e ouvimos.
Pouco antes do fatídico fim do Orkut, um pastor brasileiro que era frequentemente convidado para pregar fora do País foi desmascarado por usar dados do perfil das pessoas como se fossem revelações divinas. As pessoas ficavam abismadas com a precisão das informações que ele passava, como se o próprio Deus lhe houvesse confidenciado. Foi necessário que alguém investigasse o tal fenômeno ‘sobrenatural’ para expor a farsa. Uma pequena dose de ceticismo não faz mal a ninguém. O que é verdadeiro e sincero resiste a qualquer sondagem.
Como perceber que alguém é de fato o que diz ser? Como aferir a veracidade da experiência contada como testemunho?
Uma sociedade baseada em aparência, facilmente se deixará enganar por aqueles que ostentam uma piedade de fachada. Basta que o sujeito use meia dúzia de jargões religiosos, e pronto, já enganou metade das pessoas que o assistem.
Escrevendo a seu pupilo Tito, o apóstolo Paulo denuncia os que “professam conhecer a Deus, mas negam-no pelas suas obras, sendo abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra” (Tt.1:16).
Discursar sobre teologia não significa conhecer a Deus. Forjar manifestações sobrenaturais, idem. Tempo de casa também não significa nada. Conheço gente que abraçou a fé há tão pouco tempo, mas que demonstra conhecer a Deus com mais profundidade do que alguns que nasceram e foram criados no ambiente da igreja.
Então, como podemos inferir se alguém conhece ou não a Deus, ou ainda, se é um cristão legítimo ou não passa de um fake? Do ponto de vista de Deus, não há qualquer problema. Afinal de contas, “o Senhor conhece os que são seus” (2 Tm.2:19a). Mas do ponto de vista do lado de cá, só há uma maneira de saber: “Qualquer que profere o nome do Senhor aparte-se da injustiça” (v.19b).
Vamos tentar entender melhor isso através de um curioso episódio não muito conhecido narrado no Antigo Testamento. Lemos que os filhos do sumo-sacerdote Eli eram “filhos de Belial, pois não conheciam o Senhor” (1 Sm.2:12). Como pode alguém ser filho do sumo-sacerdote, ser nascido e criado no ambiente do templo, e ainda assim, não conhecer a Deus? Nem sempre filho de peixe, peixinho é. Embora fossem filhos de um homem correto e justo, aos olhos de Deus não passavam de filhos de Belial (nome usado no AT em referência ao diabo).
Como o escritor sagrado teria chegado a esta conclusão? Vejamos o relato:
“Ora, o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, estando-se cozendo a carne, vinha o moço do sacerdote com um garfo de três dentes na mão ( o famoso ‘tridente’). Metia-o na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita, e tudo o que o garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim faziam a todo o Israel que ia a Siló” (vv.13-14).
Este era o meio de subsistência dos sacerdotes. Eles se dedicavam integralmente ao culto, e dependiam das ofertas para sobreviver. Porém, havia um protocolo a ser seguido.
“Mas antes mesmo de queimarem a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; ele não aceitará de ti carne cozida, senão crua. Se lhe respondia o homem: Queime-se primeiro a gordura, e depois tomarás o que quiseres, então ele lhe dizia: Não, hás de dá-la agora; se não, tomá-la-ei à força. Era muito grande o pecado destes moços perante o Senhor, pois desprezavam a oferta do Senhor” (vv.15-17).
De acordo com o protocolo sacerdotal, a carne dos animais sacrificados deveria ser colocada no caldeirão até que a gordura se queimasse, e só então, o sacerdote meteria seu garfo e retiraria a sua parte.
“Ora, o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, estando-se cozendo a carne, vinha o moço do sacerdote com um garfo de três dentes na mão ( o famoso ‘tridente’). Metia-o na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita, e tudo o que o garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim faziam a todo o Israel que ia a Siló” (vv.13-14).
Este era o meio de subsistência dos sacerdotes. Eles se dedicavam integralmente ao culto, e dependiam das ofertas para sobreviver. Porém, havia um protocolo a ser seguido.
“Mas antes mesmo de queimarem a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; ele não aceitará de ti carne cozida, senão crua. Se lhe respondia o homem: Queime-se primeiro a gordura, e depois tomarás o que quiseres, então ele lhe dizia: Não, hás de dá-la agora; se não, tomá-la-ei à força. Era muito grande o pecado destes moços perante o Senhor, pois desprezavam a oferta do Senhor” (vv.15-17).
De acordo com o protocolo sacerdotal, a carne dos animais sacrificados deveria ser colocada no caldeirão até que a gordura se queimasse, e só então, o sacerdote meteria seu garfo e retiraria a sua parte.
Os filhos de Eli não tinham paciência de esperar que a gordura se queimasse. A gordura representava a melhor parte, e esta pertencia ao Senhor. Mas eles não se satisfaziam com a parte que lhes cabia.
Eles foram enredados pela mesma proposta feita pela serpente ao primeiro casal no Éden, abocanhando o que pertencia exclusivamente a Deus.
Lembre-se: Quem conhece a Deus, ama a justiça e foge da injustiça. Justiça é dar a cada um o que lhe é de direito. A Deus o que é de Deus, a César o que de César, ao empregado o que é direito seu, ao cônjuge a sua parte (1 Co.7:3-5), e assim por diante.
Em vez de lutar por lucro, quem conhece a Deus luta por justiça. Não importa quem vai ficar com a melhor parte do bolo, desde que isso seja justo.
Nas palavras do apóstolo, “dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo, a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. A ninguém devais coisa algum, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros” (Rm.13:7-8a).
Dar honra é o inverso de querer tirar vantagem.
O que denunciava que os filhos de Eli eram na verdade “filhos de Belial”, e, portanto, sacerdotes fakes, era o fato de quererem tirar vantagem em tudo, até daquilo que pertencia ao Senhor.
Há quem procure tirar vantagem até do sofrimento alheio, sem o menor constrangimento. Outros sabem capitalizar suas mais amargas experiências, levando ao pé da letra do adágio preferido de alguns: se a vida lhe der um limão, faça uma limonada.
É claro que temos direitos, porém o direito alheio vem sempre em primeiro lugar. Temos que esperar a gordura queimar, para tirar o que é nosso. É disso que Paulo fala em Romanos 12:10: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-os em honra uns aos outros.” Ser cordial é ceder a vez, pondo o interesse do outro acima do nosso, como nos orientou Paulo em outra passagem: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp.2:3-4).
Sempre haverá um caldeirão diante de nós, e nossa postura ao metermos nosso garfo vai revelar de quem somos filhos. É simples assim: “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão” (1 Jo.3:10).
Justiça é dar ao outro o que é dele. Amor é dar ao outro o que é nosso. Quem segue a Cristo deve estar disposto a abrir mão até do que é seu por direito, visando o benefício de outros.
Antes de seguir a alguém nas redes sociais, ou de introduzir alguém em seu círculo de amizade, procure verificar a conduta desta pessoa com relação aos demais e com que avidez ela mete seu garfo na caldeirão da vida. Lembre-se de que não foi o beijo que identificou o traidor de Jesus, mas o fato de meter a mão no prato do seu mestre sem qualquer recato.
Hermes C. Fernandes.
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